A identidade dos remanescentes quilombolas frente ao processo de titulação de terras
A
definição de quilombo remete aos tempos do Brasil colonial e é utilizada, no
contexto atual, como categoria jurídica referente às comunidades negras rurais
que possuem uma trajetória histórica e identitária pertencentes à
ancestralidade da comunidade do período escravocrata.
Nesse
sentido, o conceito de quilombo indica a união de fatores que vão além da
simples apropriação da terra por um povo, para abranger, também, questões como
organização social e histórica de uma comunidade, ancestralidades e modo de
vida, expressando, assim, um significado sociocultural.
A Constituição da República Federativa
do Brasil de 1988 dispôs, em seu artigo 68, que “aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos
títulos".
Com o escopo de regulamentar o
mandamento constitucional, foi editado o Decreto nº 4.887/2003, o qual regulamenta o procedimento para identificação,
reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por
remanescentes das comunidades dos quilombos.
A
caracterização dos remanescentes das comunidades dos quilombos é atestada
mediante autodefinição da própria comunidade, a qual utiliza a terra para a
garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural, conforme o artigo
2º, §§1º e 2º do Decreto nº 4.887/2003 e a Convenção 169 da Organização
Internacional do Trabalho – OIT.
Assim, denota-se que a identidade quilombola é exercida pela autoafirmação individual e coletiva de um povo, a partir de questões que interligam a identidade comunitária a um pertencimento grupal específico, como exemplo, questões como a ancestralidade e a historicidade em comum, de modo tal que pode vir a ser pleiteada a titulação das terras ocupadas por essas comunidades tradicionais.
Texto: Letícia Capitol, advogada e sócia em Pires Advogados e Consultores.
Fonte:
INCRA; SANTOS, Simone Ritta dos. Comunidades
quilombolas: as lutas por reconhecimento de direitos na esfera pública
brasileira. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2014; Decreto 4887.
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