A GUERRA E OS COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS



"Esta é uma guerra de combustíveis fósseis”, afirma Svitlana Krakovska, principal cientista climática da Ucrânia, que integra o grupo de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A invasão da Ucrânia desencadeou uma pressão sobre a indústria de petróleo e gás, fazendo com que os governos ocidentais corram para se desvencilhar da dependência do petróleo e do gás russos. 

"Estamos determinados a limitar a capacidade de Vladimir Putin de financiar sua guerra", comentou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, “a UE deve se livrar de sua dependência dos combustíveis fósseis.”

À medida que o mundo sofre com o aumento no preço dos combustíveis, a guerra expôs um dilema: as nações continuam extraordinariamente dependentes e estão lutando para garantir suprimentos precisamente no momento em que os cientistas dizem que o mundo deve cortar o uso de petróleo, gás e carvão para evitar danos irrevogáveis ​​ao planeta.

A UE, que obtém cerca de 40% de seu suprimento de gás da Rússia, está trabalhando em um plano para aumentar rapidamente as energias renováveis, reforçar as medidas de eficiência energética e construir terminais de gás natural liquefeito para receber gás de outros países.

Embora os países possam reduzir sua vulnerabilidade às oscilações nos mercados de petróleo e gás, mudando para fontes de energia mais limpas, como energia eólica ou solar e veículos elétricos, essa transição ainda levará anos.

Neste momento, enquanto muitos governos estão focados apenas em aliviar os choques energéticos de curto prazo, outros temem que os países estejam tão envolvidos pela crise energética imediata que negligenciem todos os compromissos de longo prazo para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.

O conflito significa que a cooperação global sobre a mudança climática, que deve necessariamente incluir grandes emissores como China e Rússia, se tornará ainda mais difícil.

Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, reconheceu que alguns países podem precisar utilizar o carvão no curto prazo. 

O carvão é o combustível fóssil mais sujo e produz cerca de duas vezes mais dióxido de carbono do que o gás quando queimado para energia.

“Não há futuro no carvão”, disse Timmermans em uma entrevista recente. Mas, acrescentou ele, alguns países da UE provavelmente continuarão queimando por mais tempo como substituto do gás russo até que possam produzir energia renovável suficiente para substituí-lo.


"Para o próximo inverno, pode ocorrer  a abertura de usinas a carvão, como a Itália e a Alemanha já planejavam fazer em caso de emergência," afirmou o analista de pesquisa de política energética, Ben McWilliams.

Mesmo antes do início da guerra, o uso do carvão estava sendo retomado, já que a crescente recuperação econômica pós-pandemia levou a uma alta demanda por energia.

Os preços recentemente atingiram mais de US$ 400 a tonelada, ante US$ 82 um ano atrás. Mas, por trás dos lucros recordes do setor de carvão ainda está uma indústria em declínio estrutural.


A invasão da Ucrânia pela Rússia ocorreu quando o IPCC publicou um relatório revelando que os perigos das mudanças climáticas são maiores e evoluem mais rápido do que o esperado anteriormente.


“A guerra está remodelando nosso mundo, mas a emergência climática também. A questão é: vamos aproveitar os níveis de urgência e ação dos tempos de guerra para catalisarmos a ação climática e para que tenhamos mais segurança nas próximas décadas? Ou permitiremos que a guerra jogue mais combustível no planeta já em chamas?” O questionamento foi lançado por Svitlana Krakovska. A cientista afirma que “as mudanças climáticas provocadas pelo homem e a guerra na Ucrânia têm as mesmas raízes: combustíveis fósseis e nossa dependência em relação a eles”.

A verdade é que ainda há muitas análises a serem feitas e lições a serem extraídas do momento  que estamos vivendo.

Texto: Patricia Lemos, Marketing em Pires Advogados e Consultores.

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